Desde os primórdios da humanidade é sabido que o nos temos dificuldades para encarar mudanças. Lutamos de formas diversas para não enfrentar os fatos que estão claros e muitas vezes nos convencemos com a mentira. Afinal,”uma mentira dita mil vezes se torna verdade”.
O Windows Phone se tornou algo delicado de abordar desde os meados de 2015. Fale bem ou fale mal, o assunto tem gerado um interminável debate onde você escolhe seu lado e prepara seus dedos para a guerra de argumentos que nunca encontra um fim. Será que alguns dos lados está certo?
Aqueles que defendem as duvidosas ações da Microsoft estão a todo custo buscando argumentos para manter um “sonho vivo”, e de fato (dependendo do ponto de vista) ele não está literalmente morto. Em oposição, o outro lado traz razões para se acreditar que a história não é tão bela assim. Seriam esses os “mensageiros do apocalipse” trazendo uma teoria da conspiração?
Encarando os fatos
Em consequência a todas as ações confusas tomadas pela promissora Microsoft, em 2016 as mudanças no rumo do cenário mobile da companhia ficaram evidentes. Após toda a novela com a liberação oficial do Windows 10 Mobile (que até hoje não está oficialmente concluída), houveram polêmicas relacionadas as praticas de venda da nova linha Lumia para com o globo, a queda drástica da participação do sistema no mercado e a retração das ações que se referem ao mesmo. Apesar de sugerir uma tímida retirada do OS, a empresa prosseguia afirmando o contrário, e a isso nos segurávamos.
Sem dúvidas, a declaração dada durante a última Build preocupou a muitos. Afirmando que o sistema móvel não seria o foco para o ano fazia a situação complicada parecer ainda mais drástica. Mas a esperança de um futuro promissor seguia forte, abalada talvez pela ausência e incerteza dos lançamentos em diversas partes do mundo e queimas de estoque de caráter duvidoso. Contudo, mais uma semente de incerteza foi plantada na semana passada com a confirmação da venda de mais uma divisão proveniente da compra da Nokia, gerando mais demissões e reduzindo a equipe e a divisão móvel da empresa para o minimo possível. Isso indica mais do que uma mudança de visão, mas também uma nova estrategia.
Em comunicado oficial além de confirmar o ocorrido a gigante de Redmond afirma estar : “focando esforços do mercado de telefonia onde possuem diferenciação – com empresas que valorizam segurança, gerenciamento e o recurso Continuum, e consumidores que valorizam o mesmo”. Concluindo ao informar que irá“continuar a inovar em todos os dispositivos e em seus serviços de nuvem em todas as plataformas móveis.” . Ao mesmo tempo que isso reafirma o compromisso com o sistema indica um posicionamento completamente diferente. E isso ficou ainda mais claro hoje.
A verdade nua e crua.
O grande portal Windows Central postou hoje informações referentes a uma carta interna para os parceiros da Microsoft que deixa claro de uma vez por todas as intenções da empresa com o seu sistema. Entre as afirmações temos informações mais claras sobre o foco no meio empresarial, mostrando que a empresa está buscando atingir com o público que deu origem ao sucesso da maioria dos seus serviços. Mas o que isso significa para os consumidores comuns?
Ao tentar entrar de cabeça nesse seguimento vemos a Microsoft em busca de se tornar “a nova BlackBerry“. O grande problema é que um dos principais motivos para a BB afundar foi essencialmente colocar em segundo plano o consumidor comum, já que dificilmente trabalho e lazer se comunicam. Ao ver um sistema cada vez mais voltado a trazer medidas de segurança, produtividade e compartilhamento de dados, o perfil que traçado pelo sistema tende a afastar os desenvolvedores de serviços casuais e sociais, assim como também contribui com a ausência/atraso de funções complementares voltadas para o usuário comum, o afastando assim. Mas se esse talvez não é o maior problema para você, sente-se firme e prepare o coração.
Buscando um modelo rentável e focado no novo objetivo da empresa, a Microsoft oficializou a temida medida que vem ensaiando a um bom tempo: A retirada de seguimentos e países que não se alinham a essa visão. Nesse comunicado, a companhia de Redmond afirmou que estará focando os seus esforços em “mercados chaves” como os Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Polônia, Australia e a Europa Ocidental: Áustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, Irlanda, Itália, Holanda, Noruega, Portugal, Espanha, Suécia e Suíça.
Essa posição é reflexo do abandono do seguimento de baixo custo, uma vez que a Microsoft não tem mais planos de vender smartphones baratos e intermediários para a grande massa em concorrência aos produtos Android. Dito isso, não existe mais motivos para que a empresa atue em mercado que valorizam esses seguimentos como o Brasil e a Índia, ainda que eles representem grande parte das suas vendas. Sim, a Microsoft está cortando relações com as terras tupiniquins e isso tem sido claro nos últimos meses.
O motivo para isso está no novo direcionamento, onde a empresa está visando trabalhar com Smartphones premium e topos de linha, dando maior credibilidade aos rumores de um possível Surface Phone em 2017, mas também confirmando a saída de países emergentes que inclusive não comercializam a marca de luxo Surface. Apesar de que os seguimentos populares não existirem mais para a divisão de hardware da Microsoft o mesmo não é válido para a divisão de software. Suporte para Windows Phones de baixo e médio custo ainda teremos, porém, a companhia de Nadella conta com a participação das OEM’s parceiras para o lançamento desses dispositivos. Não é possível medir o comprometimento da empresa com esse nicho, mas é de se acreditar que o ritmo lento e ambíguo ao padrão do mercado permaneça intacto.
O problema está na ausência de parceiras de peso atuando em mercado emergentes significantes para a plataforma. No Brasil e Índia, por exemplo, existem poucos (ou nenhum) representantes, deixando quase todos os lançamentos relevantes dos últimos tempos fora do alcance dos consumidores dessas regiões. Por outro lado, o sistema ganha maior foco em países em que sua situação não é das melhores, podendo resultar em uma mudança de ventos e meio aos E.U.A., Reino Unido e alguns países europeus, uma vez que a empresa acredite que “racionalização do negócio vai resultar em alterações da rede de vendas e distribuição global da linha Lumia”.
Haverá Windows Phone para todos?
Em contraparte a tudo isso, a Microsoft afirma que entre os pilares para o desenvolvimento da plataforma, a segurança, gerenciamento e principalmente o Continuum serão trabalhados para os consumidores que os valorizam. Ainda que isso possa parecer aliviante, vai de contra a tudo indicado no passado. O Continuum, que a própria Microsoft sugeria ser uma possível solução para os países emergentes onde os consumidores podem não poder ter um Computador para acompanhar o seu Smartphone, parece não se encaixar ao foco extremamente empresarial, com novos dispositivos topos de linha exclusivos para seletos mercados desenvolvidos. Estaria a Microsoft esperando fazer a diferença em mercados em que ela não atua?
Com altos investimentos em sistemas rivais e a promessa de “continuar a inovar em todos os dispositivos e em seus serviços de nuvem em todas as plataformas móveis.” a companhia parece pouco interessada a se tornar relevante na briga pela preferência do consumidor, preferindo tornar seus serviços valorizados por usuários das plataformas rivais à seduzi-los para a sua própria. Através de um e-mail, a empresa encoraja as fabricantes á apostar no sistema móvel caso elas planejem capturar a base de consumidores interessados:
“Quero assegurar-lhe que o seu investimento em telefones Windows não representa um risco . A mobilidade da experiência do Windows 10 continua a ser o centro para a nossa ambição de uma Computação mais Pessoal . Vamos continuar a apoiar e atualizar os dispositivos Lumia que estão atualmente no mercado , e o desenvolvimento do Windows 10 para telefones por OEMs , tais como HP, Acer, Alcatel, VAIO, e Trinity; assim como desenvolver grandes novos dispositivos. Vamos continuar a adaptar o Windows 10 para telas menores. Nós vamos continuar a investir em áreas-chave – segurança , gerenciamento e capacidades Continuum – que sabemos que são importantes para os meios comerciais e aos consumidores que querem uma maior produtividade. E nós vamos ajudar a alavancar a demanda para dispositivos Lumia .”
Do outro lado da moeda concluímos que a Microsoft continuará focada em seus novos dispositivos carregando essa nova visão. Não existe mais uma divisão puramente mobile, contudo o Windows 10 Mobile permanecerá em desenvolvimento como uma parte da divisão do Windows 10 de Terry Myerson, ainda que apenas como mais uma variante do core do sistema com modificações e telefonia, ao mesmo passo que a divisão do Surface de Panos Panay se encarregará de produzir dispositivos que tragam a visão da Microsoft para esses aparelhos.
Isso é um Adeus?
De certa forma sim. A linha Lumia conforme conhecemos está deixando de existir, agora de forma oficial. As mudanças que estão vinculadas tornam claro que o sistema está ameaçado à extinção em nosso país. Desta forma, caso não queira abandonar o sistema, você poderá optar por importar os novos dispositivos misteriosos da Microsoft ou de parceiras que atuam em outros mercados, ou até mesmo manter o seu Lumia o quanto for viável (uma vez que a empresa confirmou que manterá o suporte para os dispositivos atuais), mas provavelmente não deve criar esperanças quanto a expansão do sistema em nosso país.
Com as coisas claras, a história da teoria da conspiração cai por terra. Talvez essa carta por si só seja o suficiente para justificar as mudanças de opiniões daqueles acusados como “conspiradores”. O ultimo a sair, por favor, apague a luz.
Fonte: Microsoft Windows Central